Ser homem

Masculinidade é uma palavra bastante comentada ultimamente, principalmente acompanhada do adjetivo “tóxica”. Confesso que, embora compreenda o sentido e uso da expressão, sou reticente em utilizá-la. Por uma questão de cuidado ou algum receio talvez infundado de “colar” o conceito de masculinidade à um termo...

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Masculinidade é uma palavra bastante comentada ultimamente, principalmente acompanhada do adjetivo “tóxica”. Confesso que, embora compreenda o sentido e uso da expressão, sou reticente em utilizá-la. Por uma questão de cuidado ou algum receio talvez infundado de “colar” o conceito de masculinidade à um termo negativo, prefiro usar o termo “masculinidade hegemônica” para refletir sobre toda a gama de comportamentos valorizados e incentivados para meninos, adolescentes e homens adultos. Porque é disso que falamos quando buscamos problematizar e relativizar o conjunto de comportamentos masculinos danosos à si e ao outro (quem quiser saber mais sobre esse assunto recomendo esse artigo), tão presente nas atitudes, olhares e palavras no cotidiano da relações sociais.

Sabemos pelas notícias e dados que houve um aumento dos casos de violência doméstica desde o início do confinamento, tema que abordei neste post. Na semana passada um evento fez essa violência muito presente para mim: na madrugada ouviu-se discussão e gritos que não deixavam dúvidas envolver um casal em situação de violência. Meu sono pesado fez com que eu soubesse disso somente no dia seguinte, pelo relato de minha esposa e comentários no grupo de whatsapp do condomínio. E eu, que tenho a violência doméstica como parte da rotina de trabalho, fiquei com uma questão: o que fazer nesta hora?

Em uma situação aguda como a que ocorreu na madrugada o acionamento da polícia e denúncia via 180 são imprescindíveis. E também um movimento acolhedor de vizinhos, amigos e familiares que mostre a esta mulher que ela pode contar com apoio e não está sozinha para sair desta situação. Mas e o homem?

No inicio do mês de abril foi sancionada a lei que possibilita à justiça determinar ao homem agressor o comparecimento à programas de reeducação e acompanhamento psicossocial, sem prejuízo da aplicação de outras medidas. Sem dúvida uma importante modificação na lei, mas estou aqui pensando em todos os outros homens que não foram denunciados, os que cometem diariamente violências ditas “pequenas” contra sua companheira e mulheres do seu círculo social. Os que incentivam seus filhos, amigos e familiares a terem comportamentos nocivos a si e aos outros.

É urgente e necessário que os homens reflitam sobre si e sobre os efeitos de suas “ações masculinas” sobre as outras pessoas, seu entorno e a sociedade. Uma conversa difícil, pois incide justamente sobre o cerne da sua identidade e de seu lugar no mundo: “ser homem”. Uma subjetividade frequentemente alcançada com muito custo e sofrimento ao longo da infância e da adolescência e mantida nos mesmos moldes na vida adulta.

Mas é justamente neste ponto que está a chance e o espaço para mudança. Ao permitir-se repensar, refletir e considerar outras formas de ser (seja em psicoterapia ou em grupos de masculinidades) este homem percebe, aos poucos, que as mudanças não minam sua masculinidade ou o tornam menos homem. Muito pelo contrário.

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