Autoimagem

Olhar-se no espelho pode ser um exercício de muita tranquilidade para uns e de um tanto perturbador para outros. Sim, o meio termo também existe. Podemos estar contentes com nossa imagem (e tudo o que ela nos representa) num dia, mas nem tão contentes num outro e isso, na maioria das vezes, não nos impede se seguir.

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Donde vem nossa necessidade de categorizar quase tudo, e até nós mesmos? “Sou isso”, “sou aquilo”…Tenho que agradar? A quem?

E quando falamos de autoimagem será que é a gente quem responde ou será que é o outro de dentro de nós?

Olhar-se no espelho pode ser um exercício de muita tranquilidade para uns e de um tanto perturbador para outros. Sim, o meio termo também existe. Podemos estar contentes com nossa imagem (e tudo o que ela nos representa) num dia, mas nem tão contentes num outro e isso, na maioria das vezes, não nos impede se seguir.

A gente é invadido por imagens o dia inteiro. Imagens são, em Psicologia, a representação mental de um conceito, ideia, algo que está no âmbito do abstrato. Imagem vem da palavra em Latim IMAGINARI, ‘formar uma imagem mental de algo”, derivado de IMAGO.

Atualmente não vivemos sem acessar vídeos ou posts da internet, ou ouvir podcasts. E tem ainda as pessoas que fazem tudo ao mesmo tempo e acham imprescindível ao estudar, por exemplo, escrever e ler em voz alta os conteúdos do estudo. Essas diferenças não são aleatórias. Mesmo sem saber, a gente escolhe métodos adequados à nossa personalidade. E assim podemos dizer que aquilo que somos pode ter sido apreendido através de inúmeras imagens visuais, acústicas e cinestésicas.

E quando encaixamos o apreendido em imagem, seja em qual idade for, trazemos para o nosso psíquico a tranquilidade do estático, como se houvesse algo da ordem do controlável.

Mas isso é espectro. Some com o próximo movimento. O que se observa de construtivo nesse fato é que posso ser isso ou aquilo. E sofre aquele que se fixa ou se dedica a viver sob essa ilusão de que há realmente uma definição.

Fazer uma representação mental de algo para si pode ser muitas vezes automático, faz parte do nosso psiquismo, mas pode ser necessário também refletir para quê? quando se tratar de se prender a uma imagem estática, sem um por vir.

É claro que há momentos em que somos levados a nos definir. Mas é sempre em relação a algum aspecto da vida, dentro de um recorte, e em determinado tempo do desenvolvimento, como por exemplo, numa roda de conversa com amigos, numa entrevista para garantir uma vaga de emprego, determinar uma cor preferida (na pré-escola) para dizer sobre um começo de quem se é você para os outros, ou se definir num post para alcançar outras pessoas.

Mas é importante não esquecer que o espelho, oferece um complexo virtual com a realidade que ele reduplica. O que ele faz é resgatar um aspecto instantâneo da imagem. Que no processo de desenvolvimento é fundamental para formar o eu ideal, aquele que queremos acreditar que somos. No surgimento da imagem tem o sentimento de si e “ao mesmo tempo que se prefigura sua destinação alienante” (Lacan, 1936).

Isso não é muito fácil de entender, mas no nosso desenvolvimento podemos dizer resumidamente que:

1. num primeiro momento a imagem no espelho nos oferece uma confusão entre a imagem real e a virtual;
2. num segundo momento essas imagens se associam e trazem um júbilo a quem está olhando-a;
3. num terceiro momento há uma integração da imagem virtual e real e se tem aí a função do eu (da qual poderemos falar melhor num noutro momento).

O que a análise pode oferecer para o sujeito é auxílio na percepção de que “tu és isso” nada mais é do que o efeito de uma ilusão, uma alienação, e produzir uma modificação na posição do olhar. Chegando no limite estático podemos reverter o processo do olhar e descobrir como a ilusão é produzida.


Somos compostos de um conjunto de espelhos e o valor dessa imagem é simbólico.

Pode haver muito conflito quando um sujeito se propõe a se dedicar a ser perfeito, ou se achar merecedor de ser inteiramente amado, sem depender do que faz. Nas trocas amorosas, por exemplo, ser rejeitado pode fazer com que haja reflexão sobre como minha imagem vai se adequar àquilo que eu acho que é a imagem amorosa para o outro? Ou, se minha relação com minha autoimagem estiver demonstrando certa inadequação, poderei pensar que minhas performances, minhas escolhas nunca são boas mesmo. Ou se o medo de ser rejeitado for tão avassalador, a ponto de reduzir bastante a presença de um sentimento de si, se o outro não me quer, então eu não existo. O conflito e muita força gasta para se entender quem se é numa fantasia ou idealização provindas da infância pode fazer o sujeito não caminhar para frente.

Procurei destacar no texto o quanto o ser humano busca se definir e o quanto essa atividade é um tanto que ilusória, mas que na análise pode ser um valioso ponto de partida. Mas termino com uma provocação: Hervé Huot que escreveu “Do sujeito à imagem, uma história do olho em Freud” (1987), apresentou muitas ideias interessantes sobre o assunto, mas aquela que quero compartilhar é a de que as atrizes, os atores, em sua atuação se beneficiam com o descanso do si mesmo. Será essa uma busca almejada com tanta imagem consumida hoje?

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